Dei um tapa aqui nos bytes do blog e saiu muita poeira digital. E é relendo esses textos que reavivo memórias e revivo minhas vivências com amigos e familiares. Isso me impele a dar mais uma rabiscada nesse meu diário, já imaginando como vai ser legal reler esse texto daqui a uns 10 anos.
O ano de 2023 está sendo um ano meio doido, vocês não acham não? Até eclipse total do sol com vista privilegiada no terraço do meu prédio eu pude ver. Incrível de lindo. Não deixo de me admirar como os astrônomos conseguem fazer previsões com tão grande precisão. Me lembra da minha meta de ver o cometa de Halley daqui a 38 anos quando eu tiver 85 anos de idade.
Em 2020 o mundo encarou uma pandemia de SARS-CoV-19 que durou cerca de 3 anos (pelos critérios da OMS de 11 de março de 2020 a 5 de maio de 2023). No Brasil foram mais de 700 mil pessoas falecidas por essa enfermidade. Em minha curta vida eu ainda não tinha presenciado um estrago tão grande, em tão pouco tempo, por um único patógeno. Se as pessoas tivessem conseguido distinguir minimamente fantasia de realidade, fake news de fato, e curandeirismo/charlatanismo de ciência médica, a sociedade teria tido o mínimo de defesa frente a essa emergência sanitária. Mas o nosso contexto social apenas exacerbou a situação.
Mas, tento ver o copo meio cheio ao invés de meio vazio. Se levarmos em conta a história mundial e as pandemias do passado, veremos o quanto evoluímos no combate a esse tipo de mazela. Com certeza estaremos ainda mais preparados do ponto de vista científico / tecnológico, bem como social para a próxima pandemia… Pera aí? Não te avisaram? A história mundial nos alerta que poderemos sim ter outras pandemias de igual ou maior proporção que essa. Ninguém sabe quando exatamente.
Não posso deixar aqui de registrar a lembrança de que, durante cerca de três meses, ao ir para o meu trabalho, diariamente eu encontrava centenas de pessoas acampadas em frente a um quartel do exército pedindo um golpe militar, digo, “intervenção militar”. Isso tudo, em “defesa da democracia”. E eu me lembrando que a última vez que isso tinha acontecido na história do Brasil, houve uma tal “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” e na sequência o povo brasileiro ficou uns 25 anos sem o direito de votar e escolher seus líderes. Quem não conhece a História está condenado a repeti-la.
As eleições aconteceram. Um novo presidente foi eleito. Esses acampamentos foram desfeitos. Porém, alguns mais exaltados, não satisfeitos, resolveram fazer sua última tentativa em 8 de Janeiro de 2023. Para o bem da mesma democracia que havia garantido 4 anos de mandato ao presidente anterior, esses mais exaltados não tiveram sucesso.
Pulamos fora da pandemia pra nos entristecermos com os horrores das guerras ao mesmo tempo que nos empolgamos com a popularização de tecnologias de inteligência artificial (IA) antes reservadas a pesquisadores e empresas. Vou me permitir não falar sobre as guerras nessa postagem. Deixo apenas o registro ao meu eu do futuro. Hoje não tenho energia mental o suficiente para abordar um tema tão doloroso em uma postagem de aniversário. Mas, quanto a essa explosão das tecnologias relacionadas à inteligência artificial, se eu for falar tudo, não vai caber nessa postagem! Me segurem!
O primeiro livro de IA que li foi na graduação por volta de 1995. Eu era bolsista da Biofísica, orientando do Prof. Ivanildo de Oliveira da Silva que estava interessado em análise computacional de eletrocardiogramas. Esbarramos na falta de um aparelho de ECG com conversão do sinal analógico (a onda do ECG em si) para um sinal digital (números que pudéssemos analisar). Naquela época a FFT (Fast Fourrier Transformer) era um luxo computacional. As wavelets eram as queridinhas, recém chegadas à cena. Todo mundo queria saber como usar “wavelets” para as coisas mais absurdas que se possa imaginar. O problema? Nós que éramos das biomédicas não tínhamos nenhuma base matemática para entender profundamente ou aplicar essas coisas.
Os computadores da época eram fichinha para o que temos hoje em dia. Era tudo muito no começo, apesar de haver muitos otimistas, a maioria era cético a respeito do quão longe as tecnologias de IA poderiam chegar e poderiam ajudar nas Ciências Médicas. Algoritmo genético e Lógica Fuzzy eram duas palavras básicas do vernáculo dos iniciados nessas artes.
Então a internet se popularizou, os computadores ficaram muito (mas, muito mesmo) mais rápidos, a computação paralela passou a ser relevante, as técnicas de IA de 1995 hoje parecem matemática básica de segundo grau quando comparadas ao que se utiliza hoje em dia. Os hardwares especializados baratearam ao ponto de serem itens de hobbystas. Hoje eu posso muito facilmente montar, em casa mesmo e a um custo baixíssimo, aquele aparelho de ECG especial que me faltou em 1995 com peças que eu já tenho aqui em casa (um arduino e alguns componentes).
Posso em meu PC fazer análises muito mais complexas que as que meu professor pôde sonhar naquela época. E se meu PC não der conta do recado, basta alugar tempo de computadores mais potentes que o meu em provedores de computação em nuvem a um custo acessível.
Mas, isso tudo, ainda depende de eu entender minimamente acerca dessas tecnologias. E, aposto que uma boa parte de vocês que estão lendo essa postagem, não são da área e teriam alguma dificuldade inicial em fazer o que eu falei no parágrafo anterior. Sim… foi de propósito todo aquele techiniquês. Sabe por que? Porque em 2022/2023 aconteceu algo extraordinário, uma conjunção de diversos fatores, um sincronismo de diversas iniciativas, impulsionou a popularização da IA.
Sim, como eu tinha dito, IA não é algo novo, tem pelo menos uns 25 anos que eu “ouço falar” de aplicações reais da IA, e a história dos primórdios remonta o início da computação. Ela já estava presente no seu dia a dia, mesmo que você não pudesse perceber. O tradutor do Google, a função de cortar uma imagem automaticamente para um pdf de aplicativos como o Camscanner e o Adobe Scan, a funcionalidade de transformar sua voz em texto nos chats do celulares, tudo isso e muito mais já eram aplicações de IA que impactavam positivamente na nossa vida.
Os LLM (Large Language Model / Modelos de Linguagem Grandes) estão no centro de toda essa revolução. Essa “técnica” permitiu uma melhor interação com essas tecnologias de IA utilizando frases comuns em nossa própria língua. Em sentido poético, você pode conversar com a máquina como se ela fosse uma pessoa. Ou seja, não precisa saber programar para se beneficiar com os avanços atuais da IA.
Em Novembro de 2022 a OpenAI lançou o ChatGPT. Chegou a 1 milhão de usuários em 5 dias. Para comparação, o Instagram tinha levado 2,5 meses. E desde o seu lançamento os números são assustadores. Uma verdadeira revolução dentro de outra revolução (dentro da indústria 4.0).
Em 2015 tive o prazer de ser o editor do ilustre Dr. Gustavo Torres em seu livro Arritmias: O Essencial para o Clínico Geral. Sim, meu interesse por ECG não parou lá na iniciação científica em 1995. Fiquei curioso aqui e copiei e colei a foto do holter que consta na capa do livro para o ChatGPT “analisar”.
Bem, ele não acertou o diagnóstico de forma direta como vocês já estavam imaginando. Mas, é realmente incrível como, a partir de um print de baixa qualidade, ele consegue “entender” razoavelmente o que está representado ali.
O aumento da produtividade que está por vir com essas tecnologias é um marco histórico. Essas ferramentas estão recebendo financiamentos absurdos, empresas nascem todo santo dia, o ritmo está muito acelerado. Quando eu olhar essa postagem próximo ano, o cenário estará completamente diferente.
As pessoas que sabem utilizar essas ferramentas serão mais produtivas que as que não sabem. Se você não começou a “brincar” com elas ainda, comece agora. Só clicar em https://chat.openai.com/
Finalizo aqui essa postagem com um grande abraço a todos familiares, todos os amigos próximos e a todos aqueles que eu gostaria que estivessem próximos!